Centrão tenta votar PEC da Impunidade no escuro e expõe blindagem escandalosa - Correio do Agreste - O que o RN quer saber

ÚLTIMAS

Post Top Ad

Post Top Ad

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Centrão tenta votar PEC da Impunidade no escuro e expõe blindagem escandalosa

foto:Reprodução

A votação da chamada PEC da Impunidade, que pretende alterar as regras de imunidade parlamentar, foi adiada na Câmara dos Deputados depois de um dia marcado por improviso, pressão de bancadas e uma condução considerada desastrosa até mesmo por integrantes da base governista. O relator Lafayette de Andrada apresentou apenas textos não finalizados, o que inviabilizou a tentativa de líderes de colocar o tema em votação ainda na madrugada de terça para quarta-feira. A ausência de um parecer consolidado se tornou o principal fator de travamento, embora os conteúdos discutidos também tenham provocado forte resistência.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Segundo parlamentares que participaram da reunião de líderes, a maneira como a pauta foi conduzida surpreendeu negativamente. Até por volta das 20h de terça-feira não havia parecer protocolado, mas ainda assim havia quem defendesse a possibilidade de votar a proposta durante a madrugada, mesmo que o texto fosse disponibilizado com poucas horas de antecedência. Para um deputado presente, se Lafayette tivesse protocolado algo, mesmo que incompleto, haveria tentativa concreta de apreciação. O episódio reforçou a percepção de que a articulação foi feita às pressas e sem alinhamento mínimo.

Nos bastidores, o ponto mais sensível foi a pressão do centrão para incluir dispositivos que dariam à Câmara poder de autorizar previamente a abertura de inquéritos contra deputados, além da possibilidade de sustar investigações já em curso. Essa versão, apelidada de “texto B” por alguns líderes, chegou a ser ventilada com previsão de voto secreto, uma manobra que ampliou ainda mais as críticas. A ideia incomodou parte da base governista e também aliados do governo no PSD, que enxergaram nesse movimento uma tentativa de o Legislativo assumir atribuições próprias do Judiciário.

O ponto do voto secreto gerou especial preocupação. O centrão avaliou a possibilidade de votar a PEC sem divulgação nominal, o que politicamente reduziria o custo para os parlamentares que apoiassem a blindagem. Mas, regimentalmente e juridicamente, trata-se de um expediente de alto risco: a Constituição exige votação em dois turnos com quórum qualificado de 3/5, e a praxe da Câmara é a votação nominal em painel. Qualquer tentativa de sigilo seria alvo imediato de contestação e poderia resultar em judicialização. Nos bastidores, esse cenário foi descrito como “ponto de alerta máximo”.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

De acordo com avaliações feitas durante a reunião, esse mecanismo serviria como moeda de troca para viabilizar, em paralelo, a aprovação da PEC do fim do foro privilegiado, blindando parlamentares da primeira instância. Para alguns, o centrão buscava construir uma solução dupla: limitar investigações no âmbito da Câmara e, ao mesmo tempo, eliminar o foro para que processos ficassem concentrados em tribunais superiores, reduzindo riscos na Justiça comum.

A deputada Talíria Petrone (PSOL-RJ) classificou o adiamento como uma vitória da democracia. Ela destacou que “os elementos de mérito levantados no colégio de líderes e que havia insistência para que fossem incluídos eram muito graves, incluindo uma orientação de que inquéritos que envolvessem parlamentares só poderiam ser abertos com autorização da Câmara ou, numa opção de texto B, poderiam ser sustados pela própria Câmara, tudo isso com voto secreto”. Para a deputada, o que estava em jogo não era apenas a garantia de prerrogativas parlamentares, mas uma tentativa de o Legislativo se autointitular Judiciário e criar uma blindagem institucional.

PEC da Impunidade: ‘salvo-conduto institituconal’

A condução atrapalhada também chamou atenção de partidos que não costumam se alinhar em temas institucionais. O PSD, por exemplo, apresentou divergências e se somou ao PT e às legendas de esquerda na crítica ao texto e à forma de tramitação. Membros da base governista avaliam que Hugo Motta, presidente da Câmara, tentou repetir a estratégia de Arthur Lira com a PEC do voto impresso em 2021: pautar o tema mesmo sem votos para aprovar, apenas para encerrar a pressão. Mas a forma como o assunto foi retirado, sem uma definição ou uma votação simbólica, foi vista como ainda mais desorganizada, mantendo o tema vivo no radar e alimentando novas pressões.

Relatos de bastidores indicam que Lafayette de Andrada está incomodado com a interferência do centrão no texto. O relator teria sinalizado insatisfação com a tentativa de empurrar mudanças que poderiam transformar a PEC em uma espécie de salvo-conduto institucional. Essa resistência ajuda a explicar por que não houve parecer formalizado até o final da noite.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Na oposição, lideranças já se articulam para recolocar a proposta em discussão. Há expectativa de que o colégio de líderes da próxima semana avalie novamente o tema e decida se ele volta ao plenário e em qual formato. O cálculo de parte dos oposicionistas é de que, mesmo sem consenso, o assunto precisa ser pautado para não desaparecer da agenda.

Até lá, o relator deverá apresentar uma versão final do texto. A insatisfação com as exigências do centrão e a resistência de setores da base, somadas à crítica de partidos como PT e PSD, indicam que um consenso ainda está distante. O episódio, no entanto, reforçou a percepção de que a proposta divide o Congresso e expõe contradições entre bancadas que, em outros momentos, costumam caminhar juntas em pautas de interesse corporativo.

Fonte: ICL


PUBLICIDADE

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postagem mais recente Postagem mais antiga Página inicial

Ultimas notícias